Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 68-69 | Added on Thursday, August 13, 2020 3:43:41 PM
Quando estão entre vinte e trinta anos, depois de terem vivido e dito tantas verdades, já não sabem direito de mais nada. E ficam misteriosas para si mesmas, porque o enigmático não é mais charme e, sim, constância.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 101-102 | Added on Thursday, August 13, 2020 3:46:49 PM
Ana, que é uma mulher culta, odeia aquelas que passam a vida inteira acreditando que a coisa mais difícil do mundo é tirar cutícula sem arrancar um bife e, depois que parem, sentem-se Kants. Verdadeiras filósofas do existir.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 104-106 | Added on Thursday, August 13, 2020 3:47:15 PM
Para falar de Ana, é preciso repetir com frequência certas palavras: sempre, nunca, odeia, ama, não. É difícil narrar uma pessoa tão extrema. A literatura poderá tornar-se quase juvenil e fervorosa. Apesar do tédio em que vive, até ele, Ana defende. Pois ela defende aquilo que gosta ou não com o mesmo ardor.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 121-123 | Added on Friday, August 14, 2020 12:23:33 AM
Geralmente parece uma pessoa chata para aqueles que não a conhecem, e até para os que sim. Distante, sempre desligada dos grupos, pouco comunicativa com quem não tem intimidade. Mas capaz de conversar por horas a fio com os poucos amigos e de dançar noites inteiras numa boate.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 207-208 | Added on Friday, August 14, 2020 12:30:31 AM
Tem, portanto, a vida de um artista sem sê-lo. E esta é a maior crueldade que tem de se lembrar. Sabe-se medíocre. Por um triz, poderia não ser, mas sabe-se medíocre.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 501-502 | Added on Friday, August 14, 2020 12:52:12 AM
O passado é plástico, uma maquete acrílica. Fecham-se os olhos e vê-se tudo. Sabe-se ter vivido aquilo visto, mas não se vive mais nada.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 687-689 | Added on Friday, August 14, 2020 1:06:33 AM
Tudo, porque o Homem deseja a eternidade. Ele não tem fé suficiente para acreditar em vida após a morte, por isso quer durabilidade. Prefere se agarrar ao eterno em vida. E, para a grande e extensa maioria, a eternidade não virá em forma de obra-prima. Por isso, o casamento. Por isso, centenas de leis, promessas, amarras, justificativas.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 690-691 | Added on Friday, August 14, 2020 1:06:51 AM
Mas já tem a alma como uma blusa de seda furada por um broche. Não há nada o que se fazer a respeito. Nada.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 966-967 | Added on Friday, August 14, 2020 1:58:19 PM
Quando não inventa histórias ou se imagina morta num acidente de ônibus, Ana pensa em vestidos. É como se fosse a hora do recreio mental.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 1403-1405 | Added on Friday, August 14, 2020 2:25:01 PM
Ana olha, de fora, e não entende o que significa ser feliz – o que é isso lá por dentro, o que acontece com os órgãos de uma pessoa que vive com as cores, com o vento no rosto, que fica olhando um céu estrelado.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 1408-1410 | Added on Friday, August 14, 2020 11:59:53 PM
Ana a ser assim? O mesmo que leva as outras pessoas a serem como são. Um misto de coisas, a sua natureza, o seu passado, uma certa falta de talento para conviver com os outros. O inverso dessas coisas é o que faz Jaime ser tão espontâneo, tão feliz. E isso começou a perturbar Ana. Chegou a invejá-lo, ao mesmo tempo ficava entediada com toda essa alegria.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 1417-1419 | Added on Saturday, August 15, 2020 12:01:00 AM
Jaime deveria ter desconfiado daquelas atitudes não genuínas. Pois era “o reverso inevitável da paixão” de Ana. Ela percebeu que o seu coração estava endurecendo e, com medo de perder Jaime,
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 1417-1419 | Added on Saturday, August 15, 2020 12:01:03 AM
Jaime deveria ter desconfiado daquelas atitudes não genuínas. Pois era “o reverso inevitável da paixão” de Ana. Ela percebeu que o seu coração estava endurecendo e, com medo de perder Jaime, passou a tratá-lo como um rei.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 1457-1458 | Added on Saturday, August 15, 2020 12:05:02 AM
Pensam que é fácil ter um corpo tão cíclico, que muda de temperatura, de peso, de ânimo para o sexo. Tudo em função do aparelho reprodutor.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2275-2282 | Added on Saturday, August 15, 2020 1:02:19 AM
A manutenção das relações é delicada, requer boa vontade e cuidado. Qualquer casamento está sempre a um passo de entrar em declínio, é necessário um senso de equilíbrio digno de malabaristas. Um pequeno tropeção em falso e o amor cai corda bamba abaixo. São palavras que devem ser pensadas, pesadas, medidas. Tratar o outro como uma pilha de cristais finos. Pois o ser humano é um amontoado de traumas. E cada um desses traumas merece atenção e tato, quase tratamento especial. Daí se faz a intimidade máxima: um conhece os problemas emocionais do outro, muito mais do que as suas mães ou os seus analistas jamais conheceram. É, no final das contas, essa sabedoria que sustenta os alicerces de um casamento. Mas mantê-los é tão cansativo que, às vezes, os casais duvidam se aquilo vale a pena. Se não seria melhor viver sozinho, do que ter que estar atento a tudo o tempo todo. Estar ligado às variações de humor do outro, às faltas de interesse físico, ao desânimo com a própria higiene. Estar acompanhado é um trabalho árduo, disfarçado de aconchego.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2343-2344 | Added on Sunday, August 16, 2020 3:36:54 PM
Ali, pensou no amor. Percebeu que o amor se repete sem pudor. Ele é sempre o mesmo. Mudam-se os personagens, os textos.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2513-2514 | Added on Sunday, August 16, 2020 3:46:54 PM
Pelo menos, naquela hora, achava que sim. Assim é a vida: você acha alguma coisa, com muita certeza, em determinado momento, e vaticina como verdade.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2513-2514 | Added on Sunday, August 16, 2020 3:47:04 PM
Pelo menos, naquela hora, achava que sim. Assim é a vida: você acha alguma coisa, com muita certeza, em determinado momento, e vaticina como verdade. A vida é feita de verdades fugazes.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2527-2529 | Added on Sunday, August 16, 2020 3:48:08 PM
Enquanto tirava as suas coisas de dentro das malas, chorou compulsivamente. As suas coisas. As suas coisinhas queridas. Para lá e para cá. Entrando e saindo de dentro das malas, dos sacos de plástico do supermercado. Ficou realmente sentida por ver tudo aquilo jogado no chão. Seus potinhos, suas quinquilharias repletas de lembranças.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2552-2553 | Added on Sunday, August 16, 2020 3:49:50 PM
Quem cutuca, encontra e faz ferida.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2850-2851 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:03:52 PM
É que, quando as pessoas morrem, de alguma maneira, tornam-se puras. A morte limpa as coisas. É isso. Ana poderá lembrar-se de que teve um pai, e que ele morreu.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 2850-2851 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:04:00 PM
É que, quando as pessoas morrem, de alguma maneira, tornam-se puras. A morte limpa as coisas. É isso. Ana poderá lembrar-se de que teve um pai, e que ele morreu. “E seu pai?” E ela responderá: “Ele morreu.”
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 3067-3070 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:14:52 PM
há, nela, uma culpa sem sentido. Uma “culpa kafkiana”, que embaralha os fatos de tal forma em sua mente que no fim, se disserem que Ana é a única culpada, ela aceita. É o mandado de prisão de O processo. Se ela de repente receber um mandado de prisão, é capaz de nem sequer perguntar o motivo e estender os braços às algemas.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 3096-3098 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:16:01 PM
– Ana, eu não pude deixar de escutar... – É claro que não, ouvido não tem pálpebras... Não, não tem. E seria de grande alívio para o Homem, caso tivesse. O Homem fecha os olhos, o nariz, a boca, mas pouco consegue vedar sua audição. O Homem seria mais feliz se escutasse menos.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 3106-3108 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:16:50 PM
A partir dali, e até hoje, o seu passado recente a remete para Jaime. Um pombo manco lembra Jaime. Uma barraquinha de pipoca lembra Jaime. É duro refazer as imagens das coisas, depois que se convive alguns anos ao lado de outra pessoa. Vendo as coisas como se elas fossem cenário para o seu amor viver, e não simplesmente frascos, pombos, pipocas.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 3290-3291 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:26:08 PM
Todo mundo já passou por decepções amorosas. E de nada adianta saber disso, enquanto se está sofrendo. A dor sentida parece ser a única no Universo.
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Vergonha dos pés (Fernanda Young)
- Your Highlight on Location 3305-3308 | Added on Sunday, August 16, 2020 4:27:16 PM
O que tenho é tédio, tédio de tudo e tudo mais. Quero dormir, mas não consigo. Quero levantar-me e andar léguas, mas um sono incontrolável se apodera de mim. Sou assim. Uma pessoa que, por algum motivo misterioso, aprendeu a sofrer e, gostando ou não, viverá sempre assim: sofrendo. Nenhum motivo mais será necessário, nenhuma dor, nenhuma perda. Apenas o dormir ou não dormir, o acordar e o nada a fazer, além de ficar na cama pensando sobre os meus pés e os pés de toda a humanidade.
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quarta-feira, 19 de agosto de 2020
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Rebentar (Rafael Gallo)
Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 1091-1092 | Added on Friday, August 7, 2020 11:32:25 AM
Na contagem longitudinal do calendário, esse intervalo não fora maior do que em outras ocasiões, mas o tempo tem também profundidade e a sensação de ambas era que nunca tinham se ausentado tanto uma da vida da outra.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 2350-2351 | Added on Friday, August 7, 2020 4:56:18 PM
A vida passava rapidamente a ser essa constante vigília falida, essa crença no vazio, como uma entidade a abrigar o filho até que a mãe o reencontrasse.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 2993-2994 | Added on Friday, August 7, 2020 5:45:16 PM
Agora percebe que uma despedida sempre atravessa, indivisível, o passado, o presente e o futuro daquilo que se vai, iniciando-se antes mesmo da ausência e encerrando-se muito depois de se já ter perdido aquilo a que se diz adeus,
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 3206-3207 | Added on Friday, August 7, 2020 8:06:14 PM
Ângela começa a ouvir reverberar o mar agitado de vozes e risos agudos das crianças. É um som atemporal, que, renovado de geração em geração, perpassa o ar exatamente igual ao daqueles outros tempos, como se viesse das mesmas crianças.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 3951-3952 | Added on Saturday, August 8, 2020 12:35:39 AM
Eu tenho dentro do meu coração uma ferida aberta que desenha exatamente o seu contorno.
- Your Highlight on Location 1091-1092 | Added on Friday, August 7, 2020 11:32:25 AM
Na contagem longitudinal do calendário, esse intervalo não fora maior do que em outras ocasiões, mas o tempo tem também profundidade e a sensação de ambas era que nunca tinham se ausentado tanto uma da vida da outra.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 2350-2351 | Added on Friday, August 7, 2020 4:56:18 PM
A vida passava rapidamente a ser essa constante vigília falida, essa crença no vazio, como uma entidade a abrigar o filho até que a mãe o reencontrasse.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 2993-2994 | Added on Friday, August 7, 2020 5:45:16 PM
Agora percebe que uma despedida sempre atravessa, indivisível, o passado, o presente e o futuro daquilo que se vai, iniciando-se antes mesmo da ausência e encerrando-se muito depois de se já ter perdido aquilo a que se diz adeus,
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 3206-3207 | Added on Friday, August 7, 2020 8:06:14 PM
Ângela começa a ouvir reverberar o mar agitado de vozes e risos agudos das crianças. É um som atemporal, que, renovado de geração em geração, perpassa o ar exatamente igual ao daqueles outros tempos, como se viesse das mesmas crianças.
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Rebentar (Rafael Gallo)
- Your Highlight on Location 3951-3952 | Added on Saturday, August 8, 2020 12:35:39 AM
Eu tenho dentro do meu coração uma ferida aberta que desenha exatamente o seu contorno.
Hospício é deus (Maura Lopes Cançado)
Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 124-125 | Added on Monday, August 10, 2020 12:41:19 AM
Costumava tomar minhas refeições no quarto, para não ver narizes – que me pareciam quase sempre repugnantes.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 129-130 | Added on Monday, August 10, 2020 12:41:59 AM
Então ansiava ardente por crescer, viver um pouco cega e surda como as pessoas grandes: que não percebiam rumores, não enxergavam o escuro, na sua densidade e perigo.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 174-176 | Added on Monday, August 10, 2020 12:46:22 AM
Minhas relações com Deus foram as piores possíveis – eu não me confessava odiá-lo por medo da sua cólera. Mas a verdade é que fugia-lhe como julgava possível – e jamais o amei. Deus foi o demônio da minha infância. Costumava
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 174-176 | Added on Monday, August 10, 2020 12:46:26 AM
Minhas relações com Deus foram as piores possíveis – eu não me confessava odiá-lo por medo da sua cólera. Mas a verdade é que fugia-lhe como julgava possível – e jamais o amei. Deus foi o demônio da minha infância.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 291-292 | Added on Monday, August 10, 2020 12:57:57 AM
O que me assombra na loucura é a distância – os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo possuem a marca de eternidade que ostenta a loucura. Diante
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 509-510 | Added on Monday, August 10, 2020 12:30:41 PM
Tudo se mostra impreciso em minha natureza nebulosa e difícil.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 551-551 | Added on Monday, August 10, 2020 12:35:14 PM
Minha personalidade mesma será sufocada pelas etiquetas científicas.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 647-648 | Added on Monday, August 10, 2020 12:42:13 PM
Gostaria de não sentir fome. É humilhante, como nos chiqueiros. Isto mesmo: comparação exata: jeito de necrotério, sanha de porcos, necrofagia.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 732-734 | Added on Monday, August 10, 2020 12:49:26 PM
Presa ao passado como sua única realidade, despreza o presente. Para ela, o presente não é. Finge aceitá-lo, um pouco irônica, condescendente diante da pequenez das pessoas que a cercam (pessoas?). Dona Marina é bem-educada a ponto de aparentar ser iludida: – Pessoas? – Dona Marina sorri.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 763-764 | Added on Monday, August 10, 2020 12:52:08 PM
Meu egoísmo é tão grande que não me permite esquecer-me um pouco: sou, sou, sou.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 806-807 | Added on Monday, August 10, 2020 12:55:53 PM
A tarde se prolonga como a alcançar em dor o infinito. A tarde se estende sem vibração para nada.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 815-816 | Added on Monday, August 10, 2020 12:56:51 PM
Cerca-me o Nada. O Nada é um rio parado de olhar perdido. Não creio, mas se cresse seria bonito. Não creio, e tenho o Nada – e o Hospício.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 900-901 | Added on Monday, August 10, 2020 3:12:13 PM
Convida-me a sentar e começamos a conversar. É o tratamento. Para mim é mais do que tratamento. Sinto tamanha necessidade de alguém que me ouça. Como gostaria de ser amada.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 948-949 | Added on Monday, August 10, 2020 3:16:37 PM
O que eu buscava sem cessar era uma coerência que desse sentido à minha vida. Talvez, se eu enlouquecesse, conseguisse dar vida às coisas que existiam em mim e que eu não era capaz de exprimir.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 959-960 | Added on Monday, August 10, 2020 3:18:41 PM
via pessoas andando normalmente, e pensava: como podem viver livres e desprotegidas? Como se sustentam em vida? Como viver no mundo sem sofrer, se é tudo tão perigoso e inusitado?
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 978-979 | Added on Monday, August 10, 2020 3:20:01 PM
Detestava os amanhãs, mas eles me pareciam uma evidência, a não ser que me matasse.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 982-983 | Added on Monday, August 10, 2020 3:20:35 PM
não fora meu nome de família, talvez não tomassem conhecimento da minha aparente leviandade. Aparente – porque no íntimo fui sempre muito séria, descrente, superior e triste.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1103-1103 | Added on Monday, August 10, 2020 3:30:03 PM
Nós, mulheres soltas, que rimos doidas por trás das grades – em excesso de liberdade.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1126-1128 | Added on Monday, August 10, 2020 3:32:22 PM
E eu, meu deus, onde estarei na verdade, enquanto as coisas ensurdecem de tamanha falta de som? Porque então, se me viessem dizer que me esperavam para um banho de mar, eu, da minha surpresa, responderia distante e vaga: que o mar fora uma invenção tardia, da imaginação de uma criança já morta.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1176-1177 | Added on Monday, August 10, 2020 3:35:59 PM
Como é melancólica a velhice. Para que viver tanto? (Opto pela eutanásia.)
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1198-1201 | Added on Monday, August 10, 2020 3:37:59 PM
Nada me é dado. Nem o espetáculo de casas bonitas e alegres, cortinas levianas de pernas soltas dançando no ar, cortinas leves, bailarinas inconsequentes. Cortinas jovens e brincalhonas. Ou até velhas, pesadas, imponentes. Imponentes e impotentes (a imponência nas pessoas parece-me estar, quase sempre, mascarando sua impotência). As casas velhas, estragadas pelo tempo, esta tristeza.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1345-1346 | Added on Monday, August 10, 2020 3:49:24 PM
Hoje não é. Mas existo desmesuradamente, como janela aberta para o sol. Existo com agressividade.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1374-1375 | Added on Tuesday, August 11, 2020 12:31:59 AM
Que se deve fazer destas pessoas para as quais não existe nenhum cargo funcional? Eu me visto de doida, desempenho meu papel com certa elegância, sobretudo muita graça. Seria mais fácil fantasiar-me de funcionária pública, trabalhando em hospício.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1843-1844 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:35:00 PM
Minha consciência da inutilidade de tudo mata-me. Esta incapacidade de sofrer torna-me árida, vazia – invento a cada instante, invento-me a cada instante.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1847-1848 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:35:43 PM
Prefiro mentir, mentir-me, estou cansada: este vácuo. Nem triste nem alegre; sem esperanças, porque não há o que esperar (amanhã deverei escrever inteiramente diferente, e se me leio não posso reconhecer-me de uma página para outra).
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 1859-1860 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:36:40 PM
aposento – solene e negro: o bureau.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2149-2152 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:36:16 PM
Visitei-me no futuro: a memória não tem culpa. Sou a desocupada no tempo, a não fixada. Gota a gota esvaiu-se sangue róseo: estou branca, confundível. Perdi meus pés na areia – e choro os sapatos roubados.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2156-2157 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:36:22 PM
O pintor para quem posei desistiu das linhas, abandonou as tintas: Meu retrato é uma tela branca.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2241-2242 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:44:02 PM
Gostaria de matar todas as pessoas, de vez em quando, ver-me livre, e ressuscitá-las, também de vez em quando.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2244-2245 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:44:49 PM
Naturalmente faz parte da minha esquizofrenia esta maneira de ser. E a maneira de ser deles deve fazer parte da sua mediocridade.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2261-2261 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:46:28 PM
Enamore-se cada vez mais – o resto é mentira.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2263-2265 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:46:52 PM
Estou brincando há muito tempo de inventar, e sou a mais bela invenção que conheço. Antes me parecia haver um depois. Agora não me parece haver além de agora. Há muito tempo o tempo parou. – Onde? Sou o marco do esquecimento.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2318-2319 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:51:46 PM
Também li isto numa revista, ignoro de quem: “Em qualquer lugar onde estamos, a distância do infinito é a mesma” (foi o que me ajudou a resistir).
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2420-2422 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:00:15 PM
Algumas mulheres se conservam imóveis, absurdas, fantásticas, sentadas no banco ou no chão de cimento. Mudas, incomunicáveis, olhando nada aparentemente, talvez percebendo em excesso. “Quantos mundos visitei?” – já disse também isso num poema.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2437-2438 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:01:27 PM
Parece-me que toda a humanidade é responsável pela doença mental de cada indivíduo. Só a humanidade toda evitaria a loucura de cada um.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2457-2457 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:03:15 PM
ignoravam minha solidão tanto quanto eu.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2575-2577 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:13:01 PM
Entretanto a inércia intelectual me domina quase sempre. Apesar de tudo, existo com inteligência cada momento. Mas estou quase sempre entregue a perturbações psíquicas. É neste brinquedo de ser louca que se exaurem minhas energias.
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Caixa Hospcio deus e O sofredor do ver (Maura Lopes Cançado)
- Your Highlight on Location 2609-2610 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:18:05 PM
Neste mundo vazio encontro-me tranquila – angustiada. Obrigada a marchar como os outros, aparentando ser o que não sou, ou perturbo a ordem.
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- Your Highlight on Location 2627-2627 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:19:36 PM
A cidade sitiada, de Clarice Lispector,
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- Your Highlight on Location 2710-2713 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:26:15 PM
Sabem por que me perdi? Quando a cidade cresceu, morei no terceiro andar; o dia brigou com a luz – eu, incoerente, juntei-me às palavras subindo de elevador.
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- Your Highlight on Location 2827-2828 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:34:51 PM
Quando? – me pergunto agora. E que futuro? O de escritora, se não escrevo, não trabalho? Abulia. Daí a desculpa do futuro, do depois, do amanhã.
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- Your Highlight on Location 2831-2833 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:35:37 PM
Este niilismo não me deixa força ao menos para afirmar que sou niilista. Não devemos lutar diante da ausência de objetivo porquanto o objetivo inconsciente é não ser. Vivendo bem morrerei; vivendo mal, também morrerei. Esquizofrênica, paranoica, normal (que palavra), temos um caminho e todos os caminhos convergem para o mesmo ponto; nada.
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- Your Highlight on Location 2836-2837 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:36:02 PM
Não amo a vida. Apenas ela não tem existido para mim, e sendo assim, como destruí-la? É que dificilmente estou disposta a brincar de viver.
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- Your Highlight on Location 2838-2839 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:36:20 PM
As árvores devem filosofar e sua filosofia não vai além de suas copas. O pensamento da pedra deve ser compacto.
- Your Highlight on Location 124-125 | Added on Monday, August 10, 2020 12:41:19 AM
Costumava tomar minhas refeições no quarto, para não ver narizes – que me pareciam quase sempre repugnantes.
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- Your Highlight on Location 129-130 | Added on Monday, August 10, 2020 12:41:59 AM
Então ansiava ardente por crescer, viver um pouco cega e surda como as pessoas grandes: que não percebiam rumores, não enxergavam o escuro, na sua densidade e perigo.
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- Your Highlight on Location 174-176 | Added on Monday, August 10, 2020 12:46:22 AM
Minhas relações com Deus foram as piores possíveis – eu não me confessava odiá-lo por medo da sua cólera. Mas a verdade é que fugia-lhe como julgava possível – e jamais o amei. Deus foi o demônio da minha infância. Costumava
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- Your Highlight on Location 174-176 | Added on Monday, August 10, 2020 12:46:26 AM
Minhas relações com Deus foram as piores possíveis – eu não me confessava odiá-lo por medo da sua cólera. Mas a verdade é que fugia-lhe como julgava possível – e jamais o amei. Deus foi o demônio da minha infância.
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- Your Highlight on Location 291-292 | Added on Monday, August 10, 2020 12:57:57 AM
O que me assombra na loucura é a distância – os loucos parecem eternos. Nem as pirâmides do Egito, as múmias milenares, o mausoléu mais gigantesco e antigo possuem a marca de eternidade que ostenta a loucura. Diante
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- Your Highlight on Location 509-510 | Added on Monday, August 10, 2020 12:30:41 PM
Tudo se mostra impreciso em minha natureza nebulosa e difícil.
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- Your Highlight on Location 551-551 | Added on Monday, August 10, 2020 12:35:14 PM
Minha personalidade mesma será sufocada pelas etiquetas científicas.
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- Your Highlight on Location 647-648 | Added on Monday, August 10, 2020 12:42:13 PM
Gostaria de não sentir fome. É humilhante, como nos chiqueiros. Isto mesmo: comparação exata: jeito de necrotério, sanha de porcos, necrofagia.
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- Your Highlight on Location 732-734 | Added on Monday, August 10, 2020 12:49:26 PM
Presa ao passado como sua única realidade, despreza o presente. Para ela, o presente não é. Finge aceitá-lo, um pouco irônica, condescendente diante da pequenez das pessoas que a cercam (pessoas?). Dona Marina é bem-educada a ponto de aparentar ser iludida: – Pessoas? – Dona Marina sorri.
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- Your Highlight on Location 763-764 | Added on Monday, August 10, 2020 12:52:08 PM
Meu egoísmo é tão grande que não me permite esquecer-me um pouco: sou, sou, sou.
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- Your Highlight on Location 806-807 | Added on Monday, August 10, 2020 12:55:53 PM
A tarde se prolonga como a alcançar em dor o infinito. A tarde se estende sem vibração para nada.
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- Your Highlight on Location 815-816 | Added on Monday, August 10, 2020 12:56:51 PM
Cerca-me o Nada. O Nada é um rio parado de olhar perdido. Não creio, mas se cresse seria bonito. Não creio, e tenho o Nada – e o Hospício.
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- Your Highlight on Location 900-901 | Added on Monday, August 10, 2020 3:12:13 PM
Convida-me a sentar e começamos a conversar. É o tratamento. Para mim é mais do que tratamento. Sinto tamanha necessidade de alguém que me ouça. Como gostaria de ser amada.
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- Your Highlight on Location 948-949 | Added on Monday, August 10, 2020 3:16:37 PM
O que eu buscava sem cessar era uma coerência que desse sentido à minha vida. Talvez, se eu enlouquecesse, conseguisse dar vida às coisas que existiam em mim e que eu não era capaz de exprimir.
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- Your Highlight on Location 959-960 | Added on Monday, August 10, 2020 3:18:41 PM
via pessoas andando normalmente, e pensava: como podem viver livres e desprotegidas? Como se sustentam em vida? Como viver no mundo sem sofrer, se é tudo tão perigoso e inusitado?
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- Your Highlight on Location 978-979 | Added on Monday, August 10, 2020 3:20:01 PM
Detestava os amanhãs, mas eles me pareciam uma evidência, a não ser que me matasse.
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- Your Highlight on Location 982-983 | Added on Monday, August 10, 2020 3:20:35 PM
não fora meu nome de família, talvez não tomassem conhecimento da minha aparente leviandade. Aparente – porque no íntimo fui sempre muito séria, descrente, superior e triste.
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- Your Highlight on Location 1103-1103 | Added on Monday, August 10, 2020 3:30:03 PM
Nós, mulheres soltas, que rimos doidas por trás das grades – em excesso de liberdade.
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- Your Highlight on Location 1126-1128 | Added on Monday, August 10, 2020 3:32:22 PM
E eu, meu deus, onde estarei na verdade, enquanto as coisas ensurdecem de tamanha falta de som? Porque então, se me viessem dizer que me esperavam para um banho de mar, eu, da minha surpresa, responderia distante e vaga: que o mar fora uma invenção tardia, da imaginação de uma criança já morta.
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- Your Highlight on Location 1176-1177 | Added on Monday, August 10, 2020 3:35:59 PM
Como é melancólica a velhice. Para que viver tanto? (Opto pela eutanásia.)
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- Your Highlight on Location 1198-1201 | Added on Monday, August 10, 2020 3:37:59 PM
Nada me é dado. Nem o espetáculo de casas bonitas e alegres, cortinas levianas de pernas soltas dançando no ar, cortinas leves, bailarinas inconsequentes. Cortinas jovens e brincalhonas. Ou até velhas, pesadas, imponentes. Imponentes e impotentes (a imponência nas pessoas parece-me estar, quase sempre, mascarando sua impotência). As casas velhas, estragadas pelo tempo, esta tristeza.
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- Your Highlight on Location 1345-1346 | Added on Monday, August 10, 2020 3:49:24 PM
Hoje não é. Mas existo desmesuradamente, como janela aberta para o sol. Existo com agressividade.
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- Your Highlight on Location 1374-1375 | Added on Tuesday, August 11, 2020 12:31:59 AM
Que se deve fazer destas pessoas para as quais não existe nenhum cargo funcional? Eu me visto de doida, desempenho meu papel com certa elegância, sobretudo muita graça. Seria mais fácil fantasiar-me de funcionária pública, trabalhando em hospício.
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- Your Highlight on Location 1843-1844 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:35:00 PM
Minha consciência da inutilidade de tudo mata-me. Esta incapacidade de sofrer torna-me árida, vazia – invento a cada instante, invento-me a cada instante.
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- Your Highlight on Location 1847-1848 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:35:43 PM
Prefiro mentir, mentir-me, estou cansada: este vácuo. Nem triste nem alegre; sem esperanças, porque não há o que esperar (amanhã deverei escrever inteiramente diferente, e se me leio não posso reconhecer-me de uma página para outra).
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- Your Highlight on Location 1859-1860 | Added on Tuesday, August 11, 2020 3:36:40 PM
aposento – solene e negro: o bureau.
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- Your Highlight on Location 2149-2152 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:36:16 PM
Visitei-me no futuro: a memória não tem culpa. Sou a desocupada no tempo, a não fixada. Gota a gota esvaiu-se sangue róseo: estou branca, confundível. Perdi meus pés na areia – e choro os sapatos roubados.
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- Your Highlight on Location 2156-2157 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:36:22 PM
O pintor para quem posei desistiu das linhas, abandonou as tintas: Meu retrato é uma tela branca.
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- Your Highlight on Location 2241-2242 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:44:02 PM
Gostaria de matar todas as pessoas, de vez em quando, ver-me livre, e ressuscitá-las, também de vez em quando.
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- Your Highlight on Location 2244-2245 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:44:49 PM
Naturalmente faz parte da minha esquizofrenia esta maneira de ser. E a maneira de ser deles deve fazer parte da sua mediocridade.
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- Your Highlight on Location 2261-2261 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:46:28 PM
Enamore-se cada vez mais – o resto é mentira.
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- Your Highlight on Location 2263-2265 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:46:52 PM
Estou brincando há muito tempo de inventar, e sou a mais bela invenção que conheço. Antes me parecia haver um depois. Agora não me parece haver além de agora. Há muito tempo o tempo parou. – Onde? Sou o marco do esquecimento.
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- Your Highlight on Location 2318-2319 | Added on Tuesday, August 11, 2020 10:51:46 PM
Também li isto numa revista, ignoro de quem: “Em qualquer lugar onde estamos, a distância do infinito é a mesma” (foi o que me ajudou a resistir).
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- Your Highlight on Location 2420-2422 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:00:15 PM
Algumas mulheres se conservam imóveis, absurdas, fantásticas, sentadas no banco ou no chão de cimento. Mudas, incomunicáveis, olhando nada aparentemente, talvez percebendo em excesso. “Quantos mundos visitei?” – já disse também isso num poema.
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- Your Highlight on Location 2437-2438 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:01:27 PM
Parece-me que toda a humanidade é responsável pela doença mental de cada indivíduo. Só a humanidade toda evitaria a loucura de cada um.
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- Your Highlight on Location 2457-2457 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:03:15 PM
ignoravam minha solidão tanto quanto eu.
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- Your Highlight on Location 2575-2577 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:13:01 PM
Entretanto a inércia intelectual me domina quase sempre. Apesar de tudo, existo com inteligência cada momento. Mas estou quase sempre entregue a perturbações psíquicas. É neste brinquedo de ser louca que se exaurem minhas energias.
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- Your Highlight on Location 2609-2610 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:18:05 PM
Neste mundo vazio encontro-me tranquila – angustiada. Obrigada a marchar como os outros, aparentando ser o que não sou, ou perturbo a ordem.
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- Your Highlight on Location 2627-2627 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:19:36 PM
A cidade sitiada, de Clarice Lispector,
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- Your Highlight on Location 2710-2713 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:26:15 PM
Sabem por que me perdi? Quando a cidade cresceu, morei no terceiro andar; o dia brigou com a luz – eu, incoerente, juntei-me às palavras subindo de elevador.
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- Your Highlight on Location 2827-2828 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:34:51 PM
Quando? – me pergunto agora. E que futuro? O de escritora, se não escrevo, não trabalho? Abulia. Daí a desculpa do futuro, do depois, do amanhã.
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- Your Highlight on Location 2831-2833 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:35:37 PM
Este niilismo não me deixa força ao menos para afirmar que sou niilista. Não devemos lutar diante da ausência de objetivo porquanto o objetivo inconsciente é não ser. Vivendo bem morrerei; vivendo mal, também morrerei. Esquizofrênica, paranoica, normal (que palavra), temos um caminho e todos os caminhos convergem para o mesmo ponto; nada.
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- Your Highlight on Location 2836-2837 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:36:02 PM
Não amo a vida. Apenas ela não tem existido para mim, e sendo assim, como destruí-la? É que dificilmente estou disposta a brincar de viver.
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- Your Highlight on Location 2838-2839 | Added on Tuesday, August 11, 2020 11:36:20 PM
As árvores devem filosofar e sua filosofia não vai além de suas copas. O pensamento da pedra deve ser compacto.
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 31-33 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:45:47 PM
Às vezes, acontece-me não falar a André sobre estados de ânimo, pequenos cuidados, tristezas. Sem dúvida, ele também tem seus segredinhos, mas grosso modo não ignoramos nada um do outro.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 63-64 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:49:30 PM
Antigamente, eu não me incomodava com os velhos, tomava-os por mortos cujas pernas andassem ainda. Agora, eu os vejo: homens e mulheres apenas um pouco mais velhos que eu.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 135-136 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:54:58 PM
Antigamente, eu me embalava com projetos, com promessas. Agora, a sombra dos dias mortos aveluda-me emoções e prazeres. — Bom dia.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 137-139 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:55:44 PM
uma bela e jovem mulher. Quarenta anos. Com trinta anos eu havia rido quando o pai de André tratara de bela mulher jovem uma quarentona. E as mesmas palavras me vinham aos lábios vendo Martine. No presente, quase todas as pessoas me parecem jovens.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 152-154 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:56:51 PM
me liguei a alunos e a jovens colegas: eu os prefiro às mulheres de minha idade. Suas curiosidades avivam a minha, me arrastam em seu futuro, para lá de meu túmulo.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 165-166 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:57:48 PM
Criança, adolescente, os livros me salvaram do desespero: isso me persuadiu que a cultura é o mais alto valor e eu não consigo encarar essa convicção com olho crítico.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 175-177 | Added on Thursday, July 30, 2020 10:58:52 PM
Veja só! Menos eu me reconheço em meu corpo, mais me sinto obrigada a me ocupar com ele. Está a meus cuidados e eu o trato com um devotamento aborrecido, como a um velho amigo meio desgracioso, meio diminuído, que tivesse necessidade de meus préstimos.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 256-257 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:04:36 PM
Fui eu que dei contorno a sua vida. Agora, assisto-a de fora, como testemunha distante. É o destino das mães, mas quem se resigna com o destino comum das mães?
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 462-462 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:18:21 PM
Atroz contradição da cólera nascida do amor e que mata o amor.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 511-512 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:21:56 PM
Volúpia quente das lágrimas deslizando pela face! Que repouso! É tão fatigante detestar-se alguém que se ama!
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 588-590 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:27:31 PM
Num sentido, é ocioso visitar coisas. É necessário que um projeto ou uma questão vos ligue a elas. Eu só percebia pedras empilhadas umas sobre as outras.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 662-663 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:32:58 PM
A terra está ao meu redor como uma vasta hipótese que jamais verifico.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 667-668 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:33:35 PM
O excesso de meus lazeres, concedendo-me o mundo, impedia-me de vê-lo.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 745-747 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:39:48 PM
Durante anos, minhas classes me deram a ilusão de não mudar de idade: a cada entrada eu os reencontrava igualmente jovens, e esposava essa imobilidade. No oceano do tempo, eu era o rochedo batido pelas vagas que se renovavam e que não se move e não se gasta. E, súbito, o fluxo me arrasta e me arrastará até que eu tombe na morte.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 834-835 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:46:27 PM
A palavra de Sainte-Beuve é mais verdadeira que a de Valéry: "Endurecemos em placas, apodrecemos em outros lugares, não amadurecemos nunca". Meu corpo me abandonava. Não era mais capaz de escrever.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 883-885 | Added on Thursday, July 30, 2020 11:49:53 PM
Um casal que continuava porque tinha começado, sem outra razão: era nisso que estávamos no ponto de nos tornar? Passar ainda quinze, vinte anos sem queixas maiores, sem animosidade, mas cada um para seu lado, atirado em seu problema, ruminando seu fracasso pessoal, toda palavra tornada vã? Começávamos a viver despropositadamente.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 1179-1181 | Added on Friday, July 31, 2020 12:10:19 AM
Não sou nem mãe nem mulher a quem se minta. Orgulho imbecil. Todas as mulheres acreditam-se singulares, todas pensam que determinadas coisas não lhes podem acontecer e todas se enganam.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 1310-1311 | Added on Friday, July 31, 2020 11:26:50 AM
Cinema, Nembutal, creio que é um regime que me cansará depressa. Por certo, ele me felicitou. Mas qual!
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 1390-1391 | Added on Saturday, August 1, 2020 1:11:35 AM
Em verdade, estou desarmada porque nunca supus que tivesse direitos. Espero muito das pessoas que amo — demais, decerto. Espero e até peço. Mas eu não sei exigir.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 2041-2044 | Added on Saturday, August 1, 2020 1:12:59 PM
Em toda objetividade, que sou? Serei menos inteligente do que imagino? É o gênero de pergunta que é inútil fazer. Ninguém ousará dizer que sou uma boba. E como saber? Todo o mundo se acha inteligente, mesmo as pessoas que julgo estúpidas. É por isso que a mulher é sempre mais sensível aos louvores feitos ao seu físico que aos concernentes ao seu espírito.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 2120-2121 | Added on Saturday, August 1, 2020 1:16:58 PM
Para você também não é mais o amor dos vinte anos. Aos vinte anos, eu amava o amor ao mesmo tempo que a amava. Todo esse lado exaltado que tinha eu o perdi. É isto que mudou.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 2170-2172 | Added on Saturday, August 1, 2020 1:21:39 PM
a jovem estudante que Maurice desposou, que se apaixonava pelos acontecimentos, pelas idéias, pelos livros, era bem diferente da mulher de hoje cujo universo fica entre estes quatro muros.
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- Your Highlight on Location 2203-2204 | Added on Saturday, August 1, 2020 1:25:29 PM
O que me extenua é a alternância de suas gentilezas e de suas melancolias. Eu não sei nunca quem abre a porta. Como se ele tivesse horror de me ter feito mal, mas medo de me ter dado muita esperança.
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- Your Highlight on Location 2299-2300 | Added on Saturday, August 1, 2020 4:01:24 PM
Quando o silêncio me sufoca, ligo o rádio e chega de um planeta longínquo uma voz que apenas compreendo: esse mundo tem seu tempo, suas horas, suas leis, sua linguagem, e cuidados, e divertimentos que me são radicalmente estranhos.
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- Your Highlight on Location 2299-2301 | Added on Saturday, August 1, 2020 4:01:30 PM
Quando o silêncio me sufoca, ligo o rádio e chega de um planeta longínquo uma voz que apenas compreendo: esse mundo tem seu tempo, suas horas, suas leis, sua linguagem, e cuidados, e divertimentos que me são radicalmente estranhos. A que grau de desprendimento se pode chegar quando se é só, segregado!
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- Your Highlight on Location 2301-2302 | Added on Saturday, August 1, 2020 4:01:55 PM
estou suja, as cobertas estão sujas, o céu está sujo atrás das vidraças sujas; esta sujeira é uma concha que me protege, da qual não sairei nunca mais.
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A Mulher Desiludida (Simone de Beauvoir)
- Your Highlight on Location 2492-2493 | Added on Saturday, August 1, 2020 4:12:47 PM
Todos estão fartos. As tragédias têm isto: as pessoas se interessam, são curiosas, são boas. E quando se repetem e marcam passo tornam-se fastidiosas. Mesmo para mim, é tão fatigante!
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 226-227 | Added on Saturday, August 1, 2020 11:48:42 PM
Depois de um tempo, a infância se torna essa grande memória aquosa de onde emergem ou onde afundamos histórias.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 418-420 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:03:14 AM
A terra sacode ainda, sinto os sismos, as cismas todas dentro e ao redor. Fluo. Na madeira macia do chão que estala. Lá está meu corpo deitado. Meus dedos formigas caminham pelo que entendo ser o estofado do carro. Lá está meu corpo.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 585-585 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:22:34 AM
Eu tinha tropeçado dos catorze pros dezesseis.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 759-759 | Added on Sunday, August 2, 2020 10:32:10 AM
Eu acho que sempre sobra pouco pra todo mundo, independentemente de histórias traumáticas.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 770-771 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:49:16 PM
Boca seca, língua grossa, fui tomar um copo d’água que desceu pesada, me inundando dentro.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 820-822 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:53:01 PM
Sei que a vida era essa substância, massa amorfa, espalhada, rala num canto, densa noutro. Eu não tinha muito pra colocar nos sulcos que apareciam. Não tenho. A falta plena de quaisquer desimportâncias. Lixo.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 873-875 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:56:34 PM
— Tu queria que a vida fosse um liga-pontos idiota? Não é melhor que seja, sei lá, esse labirinto? Ao menos a gente se perde um pouco, se ajuda a encontrar os caminhos, fica triste com algum muro e feliz com passagens secretas.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 893-894 | Added on Sunday, August 2, 2020 12:57:27 PM
Sorri uns dentes, tentando apagar os pensamentos.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 1743-1745 | Added on Sunday, August 2, 2020 1:53:07 PM
Uma estranha forma de resignação se instalou nos meus olhos. Não que eu tivesse deixado de sentir as coisas. Mas era diferente. Não havia ansiedade alguma dentro de mim. A combinação dos remédios estava perfeita.
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Controle (Polesso, Natalia Borges)
- Your Highlight on Location 1769-1771 | Added on Sunday, August 2, 2020 1:54:42 PM
Enterrei todas as cartelas de remédios no pátio, desejei saber que espécies de flores imperturbadas nasceriam. Aos outros, desejei a calmaria daquelas poções. A mim, desejei movimento
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Vamos comprar um poeta (Cruz, Afonso)
Vamos comprar um poeta (Coleção Gira) (Cruz, Afonso)
- Your Highlight on Location 82-86 | Added on Sunday, August 2, 2020 4:34:05 PM
O pai apontou para o poeta que fungava e não tinha patrocínio nas roupas e perguntou se aquele exemplar era subversivo, que é a característica mais temida nos poetas, é o equivalente à agressividade dos cães. O senhor da loja respondeu: Está abaixo dos dois por cento. É sempre necessário serem um pouco subversivos ou a qualidade poética baixa demasiado e não gera lucro, ninguém compra, acabam preteridos a bailarinos ou hamsters.
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Vamos comprar um poeta (Coleção Gira) (Cruz, Afonso)
- Your Highlight on Location 285-287 | Added on Sunday, August 2, 2020 4:44:21 PM
Os monstros, disse ele, são muito parvos. Se dermos um passo na sua direção, já não sabem onde estamos e continuam a correr em frente a tentar assustar-nos, mas estão completamente desorientados, não percebem que já passaram por nós.
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Vamos comprar um poeta (Coleção Gira) (Cruz, Afonso)
- Your Highlight on Location 530-531 | Added on Sunday, August 2, 2020 4:55:14 PM
Escrevi uma paisagem para um jardim e escrevi uma margarida no cabo do meu lápis, pois estava com necessidade de que florisse.
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Vamos comprar um poeta (Coleção Gira) (Cruz, Afonso)
- Your Highlight on Location 611-612 | Added on Sunday, August 2, 2020 4:59:38 PM
Não sei quantas pessoas ainda visitam os seus poetas abandonados, mas se procurarem bem, há muitos parques cheios deles, dentro e fora de nós. O meu, que comprei quando tinha treze ou catorze anos, ainda o visito. Sentamo-nos os dois e dizemos inutilidades.
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