quarta-feira, 10 de abril de 2019

A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)


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A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)
- Seu destaque ou posição 49-51 | Adicionado: sexta-feira, 31 de agosto de 2018 14:21:58

Portanto, o fardo mais pesado é também, ao mesmo tempo, a imagem do momento mais intenso de realização de uma vida. Quanto mais pesado for o fardo, mais próxima da terra se encontra a nossa vida e mais real e verdadeira é.
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A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)
- Seu destaque ou posição 1764-1768 | Adicionado: segunda-feira, 3 de setembro de 2018 11:02:30

(Desde a infância que as mesmas perguntas bailam na cabeça de Tereza. Porque as perguntas verdadeiramente importantes são as que uma criança pode formular - e apenas essas. Só as perguntas  mais ingénuas são realmente perguntas importantes. São as interrogações para as quais não há resposta. Uma pergunta para a qual não há resposta é um obstáculo para lá do qual não se pode passar. Ou, por outras palavras: são precisamente as perguntas para as quais não há resposta que marcam os limites das possibilidades humanas e traçam as fronteiras da nossa existência.)
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A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)
- Seu destaque ou posição 2046-2047 | Adicionado: segunda-feira, 3 de setembro de 2018 23:32:06

E com isso que se parece, Tereza sabe-o bem, o instante em que o amor nasce; a mulher não resiste à voz que chama pela sua alma apavorada; o homem não resiste à mulher cuja alma se torna atenta à sua voz.
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A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)
- Seu destaque ou posição 3213-3222 | Adicionado: quinta-feira, 6 de setembro de 2018 12:48:56

Era um senhor bastante velho, com olhos, nariz, uma grande barba, e eu achava que, como tinha boca, também devia comer. E, se comia, também devia ter intestinos. Mas ficava logo assustado com a ideia porque, embora a minha família fosse quase ateia, percebia bem a blasfémia que era pensar que Deus Nosso Senhor tinha intestinos. Sem a mínima preparação teológica, com toda a espontaneidade, a criança que eu era então já compreendia, portanto, a fragilidade da tese fundamental da antropologia cristã, segundo a qual o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus. Das duas, uma: ou o homem foi criado à imagem de Deus e Deus tem intestinos, ou Deus não tem intestinos e o homem não se parece com ele. Os gnósticos antigos sentiam-no tão claramente como eu, aos cinco anos. Para acabar de uma vez por todas com este maldito problema, Valentino, grão-mestre da Gnose do século II, afirmava que Jesus “comia, bebia, mas não defecava”. A merda é um problema teológico mais difícil do que o mal. Deus ofereceu a liberdade ao homem e, Portanto, pode admitir-se que ele não é responsável pelos crimes da humanidade. Mas a responsabilidade pela existência da merda incumbe inteiramente àquele que criou o homem, e só a ele.
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A Insustentavel Leveza do Ser (Milan Kundera)
- Seu destaque ou posição 3900-3903 | Adicionado: segunda-feira, 10 de setembro de 2018 21:51:23

Se, em vez de ser um cão, Karenine fosse um ser humano, certamente que já teria dito a Tereza há muito tempo: “Ouve lá, já estou farto de vir todos os dias com um croissant na boca. Não és capaz de me arranjar outra coisa?” Nesta frase, encontra-se resumida toda a maldição do homem. O tempo humano não anda em círculo, mas avança em linha recta. Por isso o homem não pode ser feliz: a felicidade é desejo de repetição.
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